A campanha passou de 30% da meta mínima. Muito obrigado!

Obrigado, obrigado, obrigado! Deixo 3 vezes porque se for 25 vezes (número de apoiadores enquanto escrevo) seria demais. Confesso um clichê: eu não imaginava que poderia ser possível. Não quero zicar, ainda não foi alcançada a meta, mas 30% é um passo grande que me convenceu de ser possível. Quero tornar este projeto viável há anos, mas ao planejá-lo, bati em muitas dificuldades: como escalar, como diferenciar das big techs, como fazer um negócio de tecnologia que seja baseado em colaboração e não exploração. E como financiar na verdade nunca foi uma das questões, porque sempre caí no pensamento padrão de começar um negócio de tecnologia: eu vou só alugar computador dos outros. E aí existe um gasto inicial que é proporcional ao número de clientes, porque usar infraestrutura sob demanda (a chamada nuvem) é extremamente granular, ou seja: você só paga o que usa. Mas, ao mesmo tempo, a conta começava a não fechar se você não tiver estratégias fora do bom e velho cobrar pelo que o cliente leva. Daí a inevitável merdificação e extrativismo de dados dos tempos atuais.

Foi para escapar dessa lógica padrão do mundo da tecnologia que neste ano comecei a pesquisar sobre ter um CPD – Centro de Processamento de Dados, para não ficar no anglicismo de datacenter – próprio. Por coincidência ou não, soberania e autonomia tecnológica se tornaram assuntos cada vez mais relevantes este ano, na medida em que eu fui pesquisando sobre como criar a minha própria. Além disso, como comentado no post inicial do blog, estou com um homelab há anos e organizando espaço para este homelab na minha casa nova. Em resumo, homelab é um laboratório caseiro, onde eu reciclei um notebook e um computador velho e comecei a experimentar com projetos de software livre como o Nextcloud. De um homelab para um CPD é questão de escala e dedicação profissional versus hobby. Não quero dizer que é fácil, mas é uma maneira de desmistificar a nuvem como algo intangível. Era coerente o homelab, a relevância renovada de autonomia de dados e a ideia da Pracinha convergirem.

Daí o financiamento coletivo: se gente o suficiente já começar como interessada, isso é o capital inicial de criação do CPD, que começa a dar um retorno imediatamente, seria diferente se esse investimento inicial sai do meu próprio bolso (comentei sobre casa nova, não é? Não seria tão cedo que eu teria condições de autofinanciar o negócio). A verdade é que a meta mínima é bem mínima mesmo: ela consegue atender entre 100 e 200 usuários, dependendo da média de uso, já levando em conta que a Pracinha é uma "policultura" digital. Não quero oferecer apenas um único serviço, por isso já comecei com dois: Nextcloud e Vaultwarden. É necessário um mínimo de excedente de computação, armazenamento entre outros recursos para não apenas ter backups da operação, mas espaço para novos serviços. Nas metas além das mínimas, quero oferecer o FreshRSS (meta 2) e quem sabe o LanguageTool (meta 3). Ultrapassar a meta mínima também significa remunerar melhor (proporcionalmente) o designer da marca.

Por não querer deixar pra depois, comecei a campanha já no dia 8 de setembro deste ano. Eu estar trabalhando na Benfeitoria neste momento também ajudou, digamos. Mais uma convergência. Quero agradecer mais uma vez quem já doou, quem disse que vai doar, quem ajudou a divulgar – em especial o podcast Lado B do Rio, que generosamente explicaram e divulgaram o projeto no último episódio, segue aqui o corte do trecho.

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Lado b do rio 371 - trecho sobre a Pracinha Digital
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Hoje não existem alternativas à altura à muitos serviços de big techs no Brasil. Especificamente o Nextcloud em reais no Brasil só se você for uma empresa com um orçamento razoável para ter o próprio servidor. Não existe um que ofereça o serviço para pessoas individuais. Gostaria que a Pracinha seja a primeira de muitas alternativas às big techs; e que o setor de tecnologia livre cresça no Brasil cresça, nos seus próprios termos, sem dependência do capitalismo de vigilância e tendo colaboração como visão principal.